sexta-feira, 29 de junho de 2012

2 anos de Cirurgia


Completo hoje dois anos da Cirurgia Bariátrica. Dois anos de mudanças radicais em que tive que reaprender a viver. Mudei o numero do manequim, mudei a minha maneira de andar, mudei a minha visão sobre o meu próprio tamanho. Ainda procuro os espaços maiores para me sentar, as cadeiras mais reforçadas, os lugares mais amplos. Ainda me confundo com as porções que deve colocar em meu prato; sempre erro para mais. Nos self-services coloco muito e pago por isso.  Não sei exatamente o que devo comer ou o que vai me fazer bem. Nas visitas à casa de amigos ainda constranjo o anfitrião com meus novos hábitos alimentares. Não gosto mais de carne, algumas frutas e saladas. Sei que estou aprendendo a me alimentar e isso dá trabalho. Nem sempre é o alimento que não dá certo, muitas vezes o estado emocional é que determina se digestão será bem feita ou não. Tenho ouvido o meu corpo. Tenho me escutado mais. Às vezes eu quero ficar quietinho e se posso faço-o. Nem sempre posso fazer o que tenho vontade, mas, tenho procurado viver melhor.
Mudei alguns focos da minha vida. Antes, em meio a uma turbulência, eu ia comer e assim esquecer os problemas. A comida era, por assim dizer, um acalanto, um prazer secreto na aspereza da vida. Havia os momentos particulares de pura gastronomia. As trufas, Carolina, bombas, coxinhas e outras iguarias comidas às escondidas e rapidamente. Tornei-me campeão de “comer rápido”, talvez por medo de ser visto, afinal eu estava gordo e além de tudo diabético, como poderia me atrever a comer como qualquer magro?  Hoje tudo mudou não mais posso me dar ao luxo de me empanturrar de comida porque o meu corpo já não aceita e então, no meio do turbilhão, o que fazer? Pensar, procurar atividades construtivas e criativas, organizar os pensamentos e achar soluções mais saudáveis e fugir das armadilhas. Parei de me sentir vitima da vida e do passado, hoje sou eu que decido o que vou permitir o que ou quem vai me ferir. Se não estiver gostando, vou embora, se achar que devo questionar, questiono e se achar que devo fazer de tonto também faço e pense quem quiser pensar. Tenho pensado que nem sempre vale a pena “apurar” tudo e que tem horas que não se importar também é se posicionar. A vida ficou bem melhor, tenho mais disposição para viver, mais prazer em escolher o que vestir e comer. Não sou mais escravo da comida, como para me alimentar e sou eu que decido quanto e quando vou me alimentar. As perdas são naturais; estou mais envelhecido e nem sou bobo de não notar, mas em compensação não preciso tomar insulina e nem um monte de pílulas diariamente. Minha Glicemia nem precisa mais ser monitorada, faço ainda de vez em quando por cuidado e precaução. Peso-me regularmente para não deixar o comodismo se aproveitar e sutilmente se instalar de novo. Tenho voltado a fazer caminhadas, cuido da minha alimentação, morro de rir, acho graça de tudo e de todos, choro, questiono,brigo, leio e não deixo de ir atrás dos meus sonhos. Voltei a estudar e estou indo muito bem. Nunca me esqueço de que é assim até o fim: Um dia de cada vez!

Eu não liguei

Bertolt Brecht (1898-1956) Primeiro levaram os negros Mas não me importei com isso Eu não era negro Em seguida levaram alguns operários ...