Existe nos obesos mórbidos um aspecto compulsivo que os leva a repetir até mesmo aquilo que gostariam de evitar. Querem comer menos, mas parece existir uma força na forma de um “mando impositivo”, exigindo que comam. Não sabem o “por que”. Muitas vezes nem estão com fome. Mas precisam comer.
Muitos autores defendem a idéia de que a própria constituição do homem restringe a possibilidade de uma felicidade total. E que por mais tentador que seja ter a satisfação irrestrita de todas as necessidades, isso significa colocar o “prazer” antes da “obrigação”. Na obesidade mórbida não seria apenas o prazer que move o comportamento. Em muitos momentos esses sujeitos realmente lidam com algo que de alguma forma dá prazer ou acalma; como a comida.
Mas em muitas situações, o ir contra alguma coisa serve como uma afirmação da liberdade. A briga, o chamado conflito em nós, entre alguma coisa que você quer fazer, seja porque dá prazer, ou simplesmente porque você “tem vontade” e algo que você deveria fazer. Por isso muitos comportamentos que não conseguimos abandonar estão ligados a nossa liberdade. Aquela afirmação: “Eu não quero me sentir obrigada à...”. Esta ligação entre ter prazer e liberdade é bastante significativa. Toda forma de liberdade traz consigo certo prazer. Mas o que acontece neste caso, é que fica faltando ao obeso mórbido à dimensão de um ponto de basta, de limite, de contenção que deve existir para evitar conseqüências desastrosas.
Freud afirma que a civilização se constitui sobre a renuncia do instinto. Uma das exigências para haver civilização é a garantia de que deva haver lei, que não poderá ser violada em detrimento de um, mas para a qual todos contribuem ao preço do sacrifício dos seus instintos.
Usando esta maneira de pensar, saindo de um modelo macro de civilização e caminhando para um modelo micro individual. A mesma idéia pode ser aplicada ao obeso mórbido. Sem lei, somente com liberdade e/ou prazer. O organismo humano se desestabilize da mesma forma que uma civilização sem normas. Comer o que se quer, na quantidade que se quer, a hora que se quer. È não ter lei. Por isso as cirurgias (bariátricas) de redução da capacidade do estomago funcionam não penas pela “restrição física” que impõem. Já que mesmo com a capacidade do estomago reduzida, a “engorda”, ou o “não emagrecimento”, seriam possíveis, pelo tipo de alimento que a pessoa poderia ingerir. Como “tomar” leite condensado. Fácil de ser consumido e extremamente calórico.
Estas cirurgias funcionam além da restrição física que impõem, também pelo seu caráter de lei. Lei psicológica. As cirurgias de caráter restritivo funcionam como a lei. Que se de um lado nos beneficiam, de outro nos restringem de alguma forma.
O sentimento de culpa também pode funcionar como uma lei. Mas muitas vezes parece não ter tanta força. Porque mesmo com este sentimento a grande maioria dos indivíduos não deixa de repetir o comportamento que gostariam de evitar. O alimento como tem em si um forte apelo de prazer imediato acaba inibindo a restrição alimentar. A culpa resultante do excesso de alimento é apaziguada pelo prazer que o ato de comer traz, deslocando assim o sentimento de culpa, e por sua vez impedindo a inibição do comportamento.
Após a cirurgia bariátrica o paciente deve entender é que ter leis e segui-las não irá restringir a sua liberdade. O seu comportamento “sem lei” é na verdade sua verdadeira “prisão”. Ele é aparentemente livre, por não se impor seguir certas leis. Porem é escravo de outros comportamentos. O ato de se comer o quer, na quantidade que se quer e na hora que se quer. Também vira uma lei. A lei do “pode tudo”.
Texto: Valéria Lemos Palazzo Psicóloga CRP 06/35173
Reconstruindo a saúde passo a passo, um dia de cada vez. "A gente não se liberta de um hábito atirando-o pela janela: é preciso fazê-lo descer a escada, degrau por degrau." Mark Twain Esse Blog foi feito para contar como foi minha experiência de vida pré e pós Cirurgia bariátrica, com uma nova atitude com as propostas que a vida apresentou transformou num diário de viagem. Viaje comigo....
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