quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Escada

Na escola que eu estudava, quando pequeno, tinha uma escada lateral muito alta. Era tão alta que escorregar no seu corrimão encerado era uma aventura para poucos. Eu sempre escorregava no corrimão do lado esquerdo  o pois era protegido pela parede , mas o que ficava do lado direito era muito perigoso. Cada vez que eu descia me sentia vitorioso. Quando cresci um pouco mais me arrisquei na escada que só desciam os meninos da 5ª série. O tempo passou e eu, numa crise de nostalgia, fui passear, numa manhã de domingo, na praça que fica em frente aquela escola. Que estranho acho que reformaram a escola, não é possível que essa escadinha mixuruca era aquela da minha memória.. Só nove degraus? Que que é isso? Não pode ser.

 O lixo na volta, o mato crescido,  a pintura desbotada ... O piso encerado agora pintado de grafite nem dá mais para escorregar. Os sonhos se foram junto com a fotografia. 
A vida havia continuado e o tempo já era outro.
O menino escorregando medroso havia crescido e seus sonhos também agora eram outros: Eram sonhos que se transformavam em necessidades, pessoas esperavam por ele, não tinha mais tempo de subir e descer. Agora era só subir e não dava mais para voltar atrás. Os degraus da oportunidade se apresentavam a seus pés e assim eram feitas as escolhas, rapidamente. Tudo tinha prazo de entrega. Cada degrau era apresentado e às vezes não se conseguia ver o próximo, isso era o jogo: pra  saber se deu certo tem que subir o próximo degrau. Alguns mais dificeis de subir e outros aparentemente mais fáceis. Não há outra opção , é subir e subir e subir.. De vez em quando há paradas para se tirar o mato, encerar o piso, melhorar o visual. Não há lugar para o comodismo e háa oportunidade de melhorar o caminho a ser pisado. A decisão é sempre sua.   Descobrimos que existem coisas que não podem ser mudadas, mas também percebemos que podemos melhorar outras. A Escada estará lá , firme, desafiadora, esperando os passos e nós tomaremos a decisão de dar esses passos, um de cada vez e outro e mais outro e com essa decisão estamos, cada vez mais, indo em direção ao alto e sem perceber já não somos os mesmos até que, sem perceber, notamos que aquele momento que era tão dificil e intransponivel foi vencido e agora são outros os desafios. O tempo não para. Alguns precisam que demos as mãos para ajudar na subida. Vamos lá, sem esmourecer. Outros ficam a vida toda escorregando no cantinho protegido, evitando subir. Um dia seremos chamados para o ultimo degrau e enfim teremos chegado no nosso verdadeiro lar.

sábado, 6 de novembro de 2010

O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS

Estive pensando na vida e como perdemos tempo tentando ser adequados. Temos que ir na festa que nos convidam, usar a roupa adequada, falar o que é  politicamente correto. Temos que nos comportar conforme a situação exige. Tem dias que faço isso muito bem e tem dias que tenho vontade de arrancar o sapato e sair na metade da reunião. As pessoas esperam muito de nós e nós esperamos muito delas.Esperamos que o outro nos dê a felicidade que esperamos. Ora bolas, ninguém tem obrigação de ser legal "All Time", todo mundo é chato vez em quando e cabe a mim  sair de cena quando não estiver gostando. Preciso parar de ser agradador e pensar se quero ou não fazer o que estão me propondo. Existem coisa que são inevitáveis para mim e para os outros e existem coisas que educadamente podemos recusar, sem que isso se torne uma tragédia.   Mario de Andrade descobriu há muito tempo que tudo isso é uma grande bobagem. 
Mário de Andrade
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver
daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando
seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis
sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar
da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso
cargo de secretário-geral do coral.
‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
minha alma tem pressa…
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana;
que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se
considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!

(Mario de Andrade (1893 – 1945)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Nutrição e Cirurgia Bariátrica

Nutrição e Cirurgia Bariátrica


Após a cirurgia bariátrica, que tem como objetivo principal a melhora da qualidade de vida através da perda de peso, a nutrição tem um papel importante porque a quantidade e o tipo de alimentos a serem consumidos devem ser limitados.

O objetivo do acompanhamento nutricional é buscar o bem estar físico e emocional, através da seleção dos alimentos que contenham os nutrientes mais saudáveis e que estejam adequados às necessidades de cada indivíduo para que a rápida perda de peso não leve à desnutrição.

De maneira geral, a principal mudança na alimentação após a cirurgia é uma diminuição importante na quantidade de alimentos consumidos diariamente devido a redução do estômago. Porém, outros cuidados com a alimentação são fundamentais. Pode-se dividir o cuidado com a alimentação em cinco fases após a cirurgia:

1º fase – fase da alimentação líquida: esta fase compreende as duas primeiras semanas após a cirurgia e caracteriza-se com uma fase de adaptação. A alimentação é liquida e constituída de pequenos volumes (em torno de 50 mL por refeição) e tem como principal objetivo o repouso gástrico, a adaptação aos pequenos volumes e a hidratação. Como conseqüência da alimentação liquida, a perda de peso é bastante grande nestas duas semanas, devendo-se introduzir o uso de complementos nutricionais específicos para evitar carências de vitaminas e de minerais. A orientação nutricional deverá ser iniciada pelo médico e nutricionista já no hospital, antes da alta hospitalar.

2º fase – fase da evolução de consistência: de acordo com a tolerância e as necessidades individuais, a alimentação vai evoluindo de liquida para pastosa com a introdução de preparações liquidificadas, cremes e papinhas ralas. A evolução de cada paciente é variável de forma que a escolha de cada alimento deve ser acompanhada cuidadosamente para evitar desconforto digestivo como dor, náuseas e vômitos, esta fase tem um tempo de duração diferente para cada indivíduo porém, em média, dura em torno de 02 semanas.

3º fase – fase da seleção qualitativa e mastigação exaustiva: passado o primeiro mês após a cirurgia, inicia-se uma fase onde a seleção dos alimentos é de fundamental importância pois, considerando que as quantidades ingeridas diariamente continuam muito pequenas, deve-se dar preferência aos alimentos mais nutritivos escolhendo fontes diárias de ferro, cálcio e vitaminas. O paciente deverá receber um treinamento para reconhecer quais são os alimentos mais ricos neste nutrientes de forma a ficar mais independente para escolher as principais fontes de minerais e vitaminas encontradas nas suas refeições diárias. Como a alimentação passa a ser mais consistente deve-se mastigar exaustivamente. A duração desta fase também varia individualmente e dura em média 01 mês.

4º fase – fase da otimização da dieta: nesta fase a alimentação vai evoluindo gradativamente para uma consistência cada vez mais próxima do ideal para uma nutrição satisfatória. Geralmente, esta fase ocorre a partir do 3º mês após a cirurgia quando, quase todos os alimentos começam a ser introduzidos na alimentação diária. O cuidado com a escolha dos alimentos nutritivos deve continuar pois, as quantidades ingeridas diariamente continuam pequenas. Nesta fase o paciente pode ser capaz de selecionar os alimentos que lhe tragam mais conforto, satisfação e qualidade nutricional. Somente não são tolerados alimentos muito fibrosos e consistentes.

5º fase – fase da adaptação final e independência alimentar: esta fase deve acompanhar o paciente a partir do 4º mês e , como nas fases anteriores, também evolui de acordo com as características individuais podendo iniciar-se um pouco antes ou um pouco depois do 4º mês. A partir desta fase, um acompanhamento periódico faz-se necessário somente para o acompanhamento da evolução de peso e levantamento de informações para identificar se existem carências nutricionais como, por exemplo, a anemia. O paciente já tem bastante segurança na escolha dos alimentos e está apto a compreender quais são os alimentos ricos em proteínas, glicídios e lipídios, cálcio, ferro, vitamina A, vitamina C, folatos além de outras propriedades nutricionais.



ALGUNS ASPECTOS IMPORTANTES



O CONSUMO DE LÍQUIDOS. A rápida perda de peso leva a uma aumento transitório dos níveis de ácido úrico na circulação. Quando a hidratação não é suficiente poderá haver formação de litíase renal (pedra nos rins). Por este motivo o consumo de líquidos deve ser monitorado para evitar que a urina fique muito concentrada.

Mesmo sem sede deve-se então consumir líquidos?

Sem dúvida. O consumo de líquidos deve ser constante, independente da sede.

A ESCOLHA DE ALIMENTOS RICOS EM FERRO. Dentre os alimentos mais fibrosos e de aceitação mais tardia está a carne vermelha. Enquanto ela não for introduzida na alimentação, o nutricionista deverá orientar o paciente sobre outras fontes de ferro presentes na alimentação.

Deve-se escolher alimentos fontes de ferro para consumo todos os dias?

Sim. O consumo de alimentos riscos em ferro deve ser constante, principalmente se não for possível consumir carne vermelha.

A INTOLERÂNCIA AO AÇÚCAR. O consumo de alimentos açucarados deve ser evitado por dois motivos: 1º porque o valor calórico é elevado e 2º, dependendo da técnica cirúrgica, poderá haver Síndrome de dumping. Uma avaliação da tolerância ao açúcar poderá ser feita desde que acompanhada cuidadosamente pelo nutricionista.

Mesmo o consumo de uma pequena quantidade de açúcar pode levar à Síndrome de Dumping?

No caso da cirurgia de Capella sim. Apesar de nem sempre ser assim, às vezes o consumo de 01 bala pode desencadear o processo.

O RITMO DE EMAGRECIMENTO. A perda de peso é muito intensa principalmente durante as duas primeiras semanas após a cirurgia. O ritmo acelerado de emagrecimento continua a ser observado até o terceiro mês e , a partir de então, passa a ser mais lento. Este é um processo natural de adaptação fisiológica que faz com que o organismo passe a gastar menos energia diariamente para evitar que a perda de peso rápida e permanente leve à desnutrição e aos conseqüentes riscos à saúde como a queda da resistência à infecções, desmineralização óssea, dentre outros.

Há alguma maneira de melhorar o ritmo de perda de peso nesta fase?

A melhor forma é a atividade física regular. O exercício faz com que o organismo gaste mais energia, o que ajuda a perder peso, além de trazer uma sensação de bem estar e relaxamento. Entretanto, deve-se procurar orientação médica para a avaliação do momento adequado para iniciar o exercício e também para a escolha do melhor tipo de atividade a ser realizada.

Não seria interessante também voltar a fazer dieta líquida como nas duas primeiras semanas após a cirurgia?

Não. Este tipo de prática nesta fase pode debilitar seriamente o organismo.

A NECESSIDADE DO USO DE COPLEMENTOS DE MINERAIS E DE VITAMINAS. Toda vez que as calorias da dieta são inferiores a 1250 Kcal ao dia é necessário complementar vitaminas e minerais. No caso da cirurgia bariátrica, o valor calórico da alimentação se aproxima de 350 kcal nas primeiras semanas e continua inferior a 1250 kcal no mínimo até o sexto mês após o inicio do tratamento. Principalmente durante este período, a complementação é indispensável.

Os complementos podem engordar?

Não. Vitaminas e minerais não produzem calorias.

Que alimentos poderiam prejudicar a perda de peso?

Um consumo excessivo semelhante ao anterior à cirurgia não ocorre porque o estômago não pode receber quantidade elevadas de alimentos. Entretanto, a alimentação em pequenas quantidades pode Ter um valor calórico alto quando é rica em lipídios (gorduras). Toda gordura tem um valor calórico elevado independente da fonte (óleo, azeite, margarina, manteiga) por isto é sempre recomendável evitar o consumo habitual de receitas que levem gordura na sua preparação.

Nutricionista responsável - Renata Valentini

Eu não liguei

Bertolt Brecht (1898-1956) Primeiro levaram os negros Mas não me importei com isso Eu não era negro Em seguida levaram alguns operários ...